O percurso da minha casa até a faculdade é um tanto longo, cerca de uma hora ou mais se não houver imprevistos na estrada. Vou num ônibus fretado com mais trinta pessoas. Durante o caminho passamos por uns dez bairros.

Outro dia, já estávamos na saída da minha cidade, eu estava lendo. Não era um ótimo livro, não prendia a minha atenção; então o ônibus parou num cruzamento muito movimentado.Carros, motos, pessoas iam e vinham, compravam e vendiam; mas um fato roubou a cena. Olhei ao meu redor, uns estavam dormindo, conversando, todos estavam bem distraídos, não havia com quem compartilhar aquilo que me deixou tão angustiada. A realidade não é distante, só custamos a enxergar. Fotografei e guardei em minha memória.

Um grupo de crianças magras estavam encostados na mureta de um bar. O comércio cheio de homens tão varonis, uns afogando suas aspirações tão longínquas, outros queimando a exaustão e até jogando com a sorte. Ninguém dava a honra de um simples olhar para aqueles meninos mirrados,  mal vestidos e tratados, com aparência de tristeza que apenas os garotos de dez anos tem quando estão fumando.